terça-feira, dezembro 27, 2005

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Também aquele amor hoje memória
morreu na combustão de uma notícia
Mas nasce de tais cinzas outro pombo
Não olho para trás
Nem me despeço
Tudo o que se imagina aquém do cedro
converte-se em pilar de um amor vivo
Se é loucura viver o que não vivo
Se é loucura no crivo da memória
deixar que passe o pombo e fique o cedro
a ver se não censuram a notícia
direi mais uma vez
Não me despeço
Há-de vir a notícia
Mais o Pombo

Com asas novas há-de vir o pombo
Outro pombo dizer-me que estou vivo
louvar-me porque nunca me despeço
pedir-me que o recolha na memória
E no vento divulga-se a notícia
Quem primeiro a transmite é este cedro

Canção voa nas asas desse pombo
Torna com ele ao Sol
E morto ou vivo
diz-lhe que nem agora me despeço

David Mourão-Ferreira