Meu Querido
As paixões são as primeiras guerras das mulheres. Precisamos de as ter atravessado na primeira linha, passando todos os riscos, o de perder a nossa honra – não existe verdadeira paixão sem humilhação – e por vezes a nossa vida. “Paixão, conheço-te e odeio-te, vai-te embora”, escrevia Baudelaire, e as raparigas romanas pediam todas as noites aos deuses que as poupassem a essa calamidade. Deveria ter aplicado esse sábio preceito. Mas em vez de imitar os Antigos, caí nos delírios românticos. As recordações das mulheres são os seus feitos de armas. De longe e contadas, parecem-lhe únicas, notáveis.
Como te amei! Como estava radiante! O amor dava-me asas. (…) Depois de saíres, ficava na cama, com a cabeça metida debaixo dos lençóis para encontrar a tua presença. Depois do amor precipitava-me para um espelho, para olhar o meu rosto. Estava tão bonita, tão radiosa então! Amava-me porque me amavas.
Suspeitavas ter sido adorado a esse ponto? Muito, muito tempo, a forma do teu corpo ficou gravado na memória do meu. O desenho das tuas mãos, a textura da tua pele e o seu gosto, o teu rosto durante o amor e as palavras que pronunciavas, tão diferentes, aquela linguagem infantil, aqueles silêncios pesados, aquela violência e tudo o que nos fazia oscilar numa outra dimensão, onde se misturavam sem distinção e na mesma exaltação, inferno e delícias.
Uma manhã, julguei reconhecer a tua silhueta na rua, e meu coração, antes mesmo de eu ter a percepção consciente da tua presença, parou um instante de bater. Porque são certos seres, a este ponto, inesquecíveis? Anos mais tarde, o som de uma voz que lembrava a tua, uma fotografia encontrada por acaso, o teu nome pronunciado por pessoas que não sabem, e a velha dor acorda, a despeito de todos os esforços que eu tenha feito para esquecer…
Marie-Claire Pauwels
Como te amei! Como estava radiante! O amor dava-me asas. (…) Depois de saíres, ficava na cama, com a cabeça metida debaixo dos lençóis para encontrar a tua presença. Depois do amor precipitava-me para um espelho, para olhar o meu rosto. Estava tão bonita, tão radiosa então! Amava-me porque me amavas.
Suspeitavas ter sido adorado a esse ponto? Muito, muito tempo, a forma do teu corpo ficou gravado na memória do meu. O desenho das tuas mãos, a textura da tua pele e o seu gosto, o teu rosto durante o amor e as palavras que pronunciavas, tão diferentes, aquela linguagem infantil, aqueles silêncios pesados, aquela violência e tudo o que nos fazia oscilar numa outra dimensão, onde se misturavam sem distinção e na mesma exaltação, inferno e delícias.
Uma manhã, julguei reconhecer a tua silhueta na rua, e meu coração, antes mesmo de eu ter a percepção consciente da tua presença, parou um instante de bater. Porque são certos seres, a este ponto, inesquecíveis? Anos mais tarde, o som de uma voz que lembrava a tua, uma fotografia encontrada por acaso, o teu nome pronunciado por pessoas que não sabem, e a velha dor acorda, a despeito de todos os esforços que eu tenha feito para esquecer…
Marie-Claire Pauwels
1 Comments:
Como é tudo tão verdade o que trouxeste!!
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