domingo, junho 10, 2007

Teme-se que se tenha afogado


Jonas Valtersson

De repente ninguém sabe onde estás,
o teu fato negro como algas, o teu rosto
barbudo escorregadio como foca.

Alguém olha pelas crianças.
Avanço até à fímbria da água, agarrando-me à toalha
como um véu de viúva sobre mim.

Nenhum dos nadadores condiz.
Muito baixos, corpulentos, de barba feita,
erguem-se da ressaca, a água
escorrendo-lhes pelos ombros.

As rochas despontam junto à costa como cabeças.
A barrilha espalha-se como um fato negro esfarrapado
e não te consigo encontrar.

O meu estômago começa a contrair-se como que
para vomitar água salgada.

quando subindo a areia ao meu encontro vem
um homem que se parece muito contigo,
a sua barba eriçada como as ervas da praia, o seu fato
negro como uma concha húmida contra o seu corpo.

Aproximando-se, afinal ele
és tu - ou quase.
Quando se perde alguém nunca é
exactamente a mesma pessoa que regressa.

Sharon Olds


2 Comments:

Blogger Brain said...

Pois não,
Nunca mesmo.

E muitas vezes,
Só o descobrimos Muito Tarde!

Excelente texto!

Beijo.

11 junho, 2007 20:09  
Blogger Raquel Branco (Putty Cat) said...

Excelente mesmo.

Gostei da "moral da história". Uma verdade tão presente no nosso dia-a-dia.

Beijos

12 junho, 2007 09:37  

Enviar um comentário

<< Home