sábado, março 24, 2007

Das duas de mim

Das duas de mim só percebeste
A louca
A voz de íntima nudez
O grito surdo da fêmea.

Das duas de mim
Só percebeste a outra
A dos ventos soltos
Cabaças no ventre
E um demónio
Nos cabelos

Das duas de mim
Só percebeste a sombra
A embriaguez do vinho
O brilho da palavra
O sonho

Agora que um mapa estranho
Traçou na face os caminhos da santa
O sonho apareceu despido
Ainda voltas
De vez em quando
Com as palavras da louca

Paula Tavares

quarta-feira, março 07, 2007

espero

dei-te os dias mais preciosos,
as mãos e o corpo febris,
o pensamento lúcido,
os olhos lavados de ti.

esperei-te,
só se espera a vida.
as tuas palavras costuradas a mim
falavam-me do teu amor.

escuto os dias
desde que me deixaste,
rumo a um deserto,
no silêncio do tempo.

o tempo, meu amor,
é um universo a dançar nos corpos
atravessados de angústia.

espero, ao olhar
a distância de um oceano,
que venhas.
a felicidade é um dia possível,
se estás.

silvia chueire