sábado, dezembro 31, 2005










Feliz Ano Novo aos que tiveram perdas no ano velho e ainda assim recolhem pedras em suas aljavas. Aos colecionadores de afetos que jamais permitem que suas lagartas se transmutem em borboletas. Aos cínicos repletos de palavras sem raízes no coração. (...)

Frei Betto
(roubado aqui)

quarta-feira, dezembro 28, 2005

As tuas Palavras

Foto de Margarida Delgado



adeus, disseram-me um dia
em modo absolutamente silencioso.
e me deram as costas.
bastou

para que as minhas palavras
pensassem ter perdido o sentido.
desmaiadas, à luz de uma lua frágil,
deitaram-se na calçada, dor
a escorrer as suas faces para a rua.

silvia chueire

Em vez de te riscar, criar uma palavra
que dissesse ela só que te risquei.
Mais que onomatopaica, inventada por mim
mas que sendo palavra só de mim

fosse entendida por demais gente:
o som do lápis rompendo o papel,
o de prego mental rasgando a mente.
O tema a desfazer-se e eu riscando-te em sons
...
riscando-te da tela:súbito desvalor
por obra de arte -

Ana Luisa Amaral

terça-feira, dezembro 27, 2005

...
Também aquele amor hoje memória
morreu na combustão de uma notícia
Mas nasce de tais cinzas outro pombo
Não olho para trás
Nem me despeço
Tudo o que se imagina aquém do cedro
converte-se em pilar de um amor vivo
Se é loucura viver o que não vivo
Se é loucura no crivo da memória
deixar que passe o pombo e fique o cedro
a ver se não censuram a notícia
direi mais uma vez
Não me despeço
Há-de vir a notícia
Mais o Pombo

Com asas novas há-de vir o pombo
Outro pombo dizer-me que estou vivo
louvar-me porque nunca me despeço
pedir-me que o recolha na memória
E no vento divulga-se a notícia
Quem primeiro a transmite é este cedro

Canção voa nas asas desse pombo
Torna com ele ao Sol
E morto ou vivo
diz-lhe que nem agora me despeço

David Mourão-Ferreira