terça-feira, julho 24, 2007

Espectador de mim mesmo

Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis.

Fernando Pessoa

quarta-feira, julho 04, 2007

querer

é querer ter os fins de tarde solarengos. é querer ter o que traz o vento que bate ao de leve na cara. é querer ser o calor do afago no pescoço. é querer ser pedra de calçada pisada por passos de bailarina. é querer morder a maçã mais vermelha do pomar. é querer ser nota de música - afinadíssima! é querer poder cheirar a almofada. é querer deitar cedo. é querer enroscar dedos mindinhos. é querer poder correr de olhos fechados. é querer nadar no mar às escuras. é querer ser a maçã mais vermelha do pomar. é querer ser ombro nu. é querer ser o sol dos finais de tarde. é querer ser um silêncio abafador de ruído. é querer ser passos de bailarina. é querer ser almofada. é querer ter arma. é querer ser bala. é querer ser sono. é querer ser o vento que bate na cara. é querer ser rua apertada. é querer esconder debaixo da cama certos passados pequeninos. é querer ser fome. é querer ser o bolo de aniversário. é querer ser o pescoço afagado. é querer ser aperto de mão. é querer ser dedo mindinho. é querer dormir às quatro e meia. é querer dar pontapés no tempo e marcar golo. é querer ser um nome. é querer ter um nome. é querer gritar um nome.

Joana, aqui