quarta-feira, outubro 25, 2006

NOTAS PARA UN BLUES

DO
lor por estar contigo en cada cosa. Por no dejar de estar contigo en cada cosa. Por estar irremediablemente contigo

en mí.

RE
cordar que mis monedas no me permiten adquirir.

Que mi deseo no es tan poderoso como para taladrar blindajes,
ni mi atrevimiento tan hábil como para no hacer saltar la
alarma. Recordar que sólo debe mirar los escaparates.

MI
edo por no llegar a ser, por ni siquiera conseguir estar.

FA
cilmente lo hacen: clavan sus espinas invisibles, abren la

puerta del temor, hacen que renieguen de mí misma cuando
menos se espera. Y ni siquiera saber cuántos han sacado copia
de mis llaves.

SOL
o he logrado el punzón de la pica, la lágrima del diamante

o los caprichos del trébol. Quizá no existan los corazones.
Quizá es que sea imposible elegir.

LA
bios sellados, custodios del mejor guardado secreto, del recinto en donde las palabras reanudan sus batallas silenciosas, sus pacientes y refinados ejercicios de rencor.

SI
crees que es paciencia, resignación, inmunidad o anestesia te

equivocas. Es que he procurado cortar todas las margaritas
para no tener que interrogarlas.

Ana Rossetti

quinta-feira, outubro 19, 2006

And Sure in Language Strange

É noite nos meus olhos.
E nos teus ainda
se sente a água?
Cego vou para teus braços
e não sei quem és.
De amor por ti
nunca direi
ou se já cai a flor
da amendoeira. Nos mares
do rio a que me deito
navega o barco
dos fantasmas, eu por eles
quis crianças
e os outros corpos todos.
Nos meus olhos
é a clara noite, a água
sobe, amarras
esticam e protegem.
Teus olhos dizem
que estou a chegar
e não se importam
do que vou querer,
do que te falo. Afasto
os arbustos, vou
em pressa, prepara-me
o gesto de receber, abre
o teu vestido, a boca
sobre os pulsos
já a sinto. É a noite
toda nos meus olhos,
silvados que quebrei, domínios
por onde venci
a infiel maneira
de existir. Assim ergues
a pequena verdade, de amor
por ti nunca direi
como te quero.


Helder Moura Pereira

quinta-feira, outubro 12, 2006

Por um fio



E se o fio se parte?
E se o fio se rompe?
E se o fio se corta?
E se o fio se quebra?
E se o fio se solta?
E se o fio eu desato?
E se o fio se desprende?
E se o fio eu desligo?
E se o fio eu rasgo?
E se o fio despedaço?
E se do fio me separo?
E se do fio me liberto?
E se livre me quero
Livre na escolha
Livre na queda
Livre de laços
Livre de fios?

Encandescente




quarta-feira, outubro 11, 2006

Por um rosto chego ao teu rosto

Por um rosto chego ao teu rosto,
noutro corpo sei o teu corpo.
Num autocarro, num café me pergunto
porque não falam o que vai
no seu silêncio aqueles cujo olhar
me fala da solidão.
Esqueço-me de mim. Tão quieto
pensando na sua pouca coragem, a minha
sempre adiada. Por um rosto
chegaria o teu rosto, mesmo de um convite
e desenha no ar o hábito
por que andou antes de saíres
do espaço à sua volta. Estás longe,
só assim podes pedir algumas horas
aos meus dias. Sem fixar a voz
a tua voz é uma corda, a minha
um fio a partir-se.

Helder Moura Pereira

domingo, outubro 08, 2006

Como posso decifrar-te?

Como posso, Poeta,
Decifrar-te
Se és sempre a incerteza,
A dissonante
Face dupla do amor,
Sombria e clara?

E como maldizer
O sofrimento
Se ao martírio de amar
Me fiz constante,
Companheira da dor,
Irmã do engano?

Como posso, meu Poeta,
Nesta hora,
Desvendar em silêncio
Teus segredos

Inventando entrelinhas
Na escritura
Vacilante e indecisa
De teus dedos?

Como posso falar
Do desespero
Se a força do desejo
Em tua boca
É um delírio de pragas
E de beijos,

Se a angústia de perder
O que me mata
Faz-me a vida odiar
Mais do que a morte,

Pois que ao perder-te
Perco mais que a vida,
Perco o sonho, a memória,
A fantasia...

E este gosto de viver
Como quem morre.

Myriam Fraga

quarta-feira, outubro 04, 2006

Poema encarcerado

Toda palavra é vã.

Meu amor é um poema encarcerado no papel.
Meu amor é um tecelão de estrelas ignoradas pelo dia.
Meu amor ainda aguarda pelos sóis que brilham em seus olhos.
Meu amor é a cruz amaldiçoada
Na qual prego minhas mãos com alegria.
Meu amor perpassa corpos e semáforos fechados.
Meu amor é um andarilho que tropeça em passos bêbados.
Meu amor me dá medo.


Meu amor é mais confuso que minha gaveta de meias.
Meu amor reconta cada tic-tac na madrugada.
Meu amor rima brócolis com metrópoles.


Meu amor não tem coerência.


Meu amor é um silêncio povoado de pensamentos.
Alegre como o relâmpago de um sorriso,
Caótico como o trânsito de minhas meias.

Meu amor é desconcertante.

Meu amor é esquivo como um sparring,

um sabonete molhado, uma mulher nua.
É teimoso, nostálgico, imbecil.

Toda palavra é vã.

Sobretudo,
Meu amor ainda não esqueceu
De te recordar.

(toda palavra, toda palavra)

Alexandre Inagaki

domingo, outubro 01, 2006

A luz de ontem



Procuro, não sei o que procuro. Procuro
um céu passado, a véspera extinta. Meu rosto
vai tão baixo, que antes nos céus ia posto!

Procuro, não sei o que procuro. Procuro
auroras idas, que jorravam, inflamadas
fontes — hoje com águas presas derrotadas.

Procuro, não sei o que procuro. Procuro
a grande hora que em mim restou sem figura
como em um cântaro morto um fim de abertura.

Procuro, não sei o que procuro. Sob estrelas de
[ ontem,
sob as que passaram, procuro
a luz apagada que ainda enalteço.

Lucian Blaga